14.11.2020 - A internação e a preparação para o transplante – no meio da pandemia do COVID-19
De minha primeira consulta com o Dr. Fábio Pires, guardo com muito carinho o desenho que ele fez para me explicar a SMD e a LMA.
Como disse em post anterior, fevereiro foi um mês decisivo: conseguimos reduzir o índice de blastos em minha medula óssea no final de janeiro de 2020 e, com isso, iniciar o processo de agendamento da internação e subsequentemente do transplante a partir de 05.02.2020. Tanto eu quanto meu irmão Luis Fernando, agora já sob a condução da equipe médica da BP capitaneada pelo Dr. Fábio Pires, tivemos que realizar uma série de exames adicionais. No meu caso, além de novos exames de sangue, basicamente fiz um check-up de todas as funções do corpo: cardíacas, pulmonares, arcada dentária, seios da face, tórax, abdômen, etc. Tudo tinha que estar em ordem para não corrermos nenhum risco.
Em 20.02.2020 recebemos a aprovação do Plano de Saúde para o transplante, e agendamos a consulta multidisciplinar, para mim e para meu irmão, para o dia 28.02.2020. Não preciso dizer a ansiedade que se instaurou em mim por aquelas semanas, né? Tudo estava caminhando bem e somente um desastre causaria a interrupção do processo. Isolamento controlado e evitar algumas atitudes que pudessem causar problemas, inclusive um simples resfriado, poderiam pôr tudo a perder.
Fizemos a consulta na data agendada e em 04.03.2020 retornei ao consultório do Dr. Fábio Pires na BP, para receber as últimas orientações relativas à internação. Em 09.03.2020 recebi a confirmação da data de internação: deveria me apresentar na BP Mirante no dia 11.02.2020 às 10:00hs para a consulta pré-internação e no dia seguinte, 12.03 à 7:00hs da manhã, para efetivar a internação.
Voltando da consulta pré-transplante, meus filhos aproveitaram para já me cortar os cabelos, uma vez que os perderia durante o processo. Rimos muito e nos divertimos a cada passada da máquina, aqui no corredor de minha casa. A parte da tarde foi reservada para a arrumação das malas e dos livros e materiais da faculdade, já que eu não queria interromper os estudos de Direito na Campos Salles durante o tempo que ficaria internado.
Tudo preparado, restava conter a ansiedade; meu irmão, que mora com sua família no interior, teria que se deslocar para São Paulo com uma semana de antecedência à data do transplante, já então agendada para o dia 25.03, para fazer todo o processo de preparação e coleta de sangue de sua medula.
Em todo o período de tratamento, preparação e internação para o transplante foram incontáveis as doações de sangue que meus parentes e amigos fizeram: não tenho palavras para também agradecer a todos por este gesto de amor e desprendimento.
Instalados em um dos quartos do BP Mirante, começamos com o processo mais diretamente: aplicação de radioterapia, intensificação dos quimioterápicos, cuidados com as mucosas bucais e fisioterapia preventiva. Nos dez primeiros dias tudo estava bem: com apetite e paladar, os cafés das manhãs e as refeições iam que era uma beleza! Depois, pouco a pouco fui perdendo o paladar e nada mais me apetecia; passei basicamente a tomar milkshakes e sorvetes. Para um bom garfo como eu, “frustrante”!
Mal sabíamos nós que o pior ainda estava para vir: o começo da Pandemia do Corona Vírus! Nos pegou a todos de surpresa e mudou inúmeras rotinas no hospital. Tudo o que havíamos planejado em termos de rodízios de acompanhantes, saídas para um passeio ao ar livre (do acompanhante, obviamente) foi por terra! Teríamos que nos isolar no quarto! Da mesma forma, as visitas diárias que recebia de diferentes especialistas passaram a se dar num número menor, sem qualquer prejuízo ao processo, devo destacar. Notícias da TV davam conta do crescente número de infectados, assim como do início dos casos fatais. Muitas delas eram desencontradas: alguns minimizavam a Pandemia, outras a elegeram como o inimigo público número 1. E nós forçosamente “presos” numa situação inusitada e sem podermos fazer nada: foram momentos intensos e nervosos.
Implantado o cateter central, que seria o canal para coleta de sangue e administração de medicação, por uma daquelas infelicidades infinitesimais, tive uma infecção e, consequentemente, foi necessária a sua remoção e substituição por um PIC. Nada demais, mas é sempre um fator de risco adicional.
Meu irmão concluiu a preparação para a doação, e sentiu na pele o problema do COVID-19; ele veio com sua esposa e se hospedou em um hotel bem próximo do BP Mirante. Pegos de surpresa, foram quase obrigados a deixar o hotel, o que só não aconteceu por intervenção da BP. Mas tiveram que ficar restritos ao quarto, inclusive fazendo aí suas refeições. Tudo estava sendo fechado ao redor; da janela de meu quarto se via cada vez menos pessoas nas ruas. Logo depois foram implementadas as medidas de segurança: máscaras, álcool gel e controle de temperatura. Mas estávamos num ambiente em que infecções podem ocorrer; controle redobrado – limpezas frequentes.
Mais uma semana e finalmente chegaria o grande dia: o transplante de medula óssea.
No próximo post: O grande dia: o transplante da medula óssea e os primeiros dias pós-transplante.
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