24.11.2020 - A pega da medula
Passado o transplante, começava então a contagem do tempo para ver a data da pega. Fizemos um bolão interno para colher os palpites da equipe médica (médicos, enfermeiros, auxiliares, fisioterapia, nutrição, etc.) quanto a data que teríamos a confirmação: mais um momento de descontração que ajudou muito! Para que vocês entendam, para efeito de se dar a pega da medula recebida, o protocolo interno da BP exigia que os exames de sangue feitos apresentassem por 2 dias consecutivos: número de plaquetas acima de 20.000 e de neutrófilos acima de 500/mm3 sem necessidade transfusional.
Seguiram-se os dias, com as constantes medicações e as atividades físicas, para as quais nem sempre eu estava disposto, mas que com a força das fisioterapeutas e as “broncas” de minha esposa, eu me sentia na obrigação de fazê-las: movimentos básicos, andar no espaço do quarto, bicicleta e uso duas vezes por dia do CEPAP (aparelho que gera um fluxo de ar comprimido controlado, e que ajuda na oxigenação do sangue e o relaxamento dos músculos das vias respiratórias superiores) dividiam espaço com os demais cuidados. Foi um período meio complicado, pois comecei a não mais sentir o gosto dos alimentos. Vez por outra os exames de sangue indicavam queda nas plaquetas e/ou hemoglobina, o que me obrigou a fazer algumas transfusões.
Aqui ressalto mais uma vez a importância das doações de sangue e plaquetas que foram feitas por inúmeros familiares, parentes e amigos: gesto de amor e desprendimento para com o próximo. Como de agora em diante não posso mais ser um doador de sangue, decidi dedicar parte de meu tempo a escrever e esclarecer sobre a SMD e a LMA, para que mais pessoas possam ter um testemunho de fé e de sucesso.
Os dias se seguiam e matávamos o tempo entre as partidas de buraco e eu, com os estudos de Direito. Às noites participava das lives com os professores e durante o dia fazia as atividades e lia os livros pertinentes.
Logo entramos em abril e as expectativas aumentaram; num exame coletado na madrugada da quinta-feira, 09.04, tivemos o primeiro indício positivo: ambos os parâmetros de referência para a confirmação da pega se mostraram acima dos limites, o que nos deu a esperança de que ela se daria no dia seguinte, Sexta-Feira Santa. Todos animados, mas cautelosos, pois era um grande sinal de que o transplante tinha dado certo!
Mas o exame seguinte mostrou uma pequena redução, o que adiou nossa comemoração: precisávamos novamente de resultados positivos por dois dias consecutivos. Os exames do sábado de aleluia foram novamente positivos, o que indicava a grande chance da pega se dar no dia seguinte. Feliz coincidência, pois minha esposa é devota de Nossa Senhora de Fátima, e exatamente há 22 anos atrás tivemos a oportunidade de estarmos no Santuário de Fátima em Portugal, num domingo de Páscoa! Isso voltou às nossas mentes e rezamos para que a pega se desse no domingo.
Às 5:30 hs da manhã foi feita a coleta de sangue e, algumas horas depois veio a confirmação: a pega tinha se dado e eu tinha agora uma segunda data de nascimento: 12.04.2020!!! Festa, comemoração, contida pelas circunstâncias, mas muito alegre. Antes disso, minha esposa tinha preparado uma pequena festinha de Páscoa, com luvas cirúrgicas simulando os coelhos de Páscoa.
Apurados os palpites da equipe médica, constatamos que quatro tinham acertado a data da pega, inclusive a Viviane: rimos muito e celebramos praticamente o dia todo. Foi difícil dormir nesse dia devido à excitação provocada pela pega. Falei com meus pais, irmãos e alguns amigos, todos felizes e confiantes com a recuperação que entraria agora no cardápio, assim que a alta hospitalar me fosse dada.
Mas este é o assunto para um próximo post.
No próximo post: o poder da fé!
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