top of page
Buscar
Foto do escritorLierson José Godinho Brígido

POST 15

02.12.2020 - A alta para casa e os cuidados/isolamento


Depois de exatos 33 dias de internação recebi a alta hospitalar: feliz por poder retornar para casa, mas ao mesmo tempo preocupado pois teria que tomar uma série de cuidados adicionais com limpeza, alimentação, higienização de tudo com o que entrasse em contato, além de continuar praticamente isolado. Feita a alta, pela Dra. Hegta Figueiroa que me acompanhou no dia a dia durante toda a internação, recebi as orientações relacionadas à alimentação (higiene, seleção e armazenamento), aos cuidados com higiene pessoal, visitas e lazer e quanto aos medicamentos que deveria tomar a partir de então.


Felizes e confiantes fizemos as malas e aguardamos um de nossos filhos vir nos pegar no Hospital. Nos despedimos de toda a equipe médica presente e nos dirigimos para o local de embarque. Era mais um capítulo que se encerrava nesta luta pela vida.


Chegamos em casa e fomos efusivamente recebidos pela Arya (cachorra) e pelo Bóris (gato), a quem não víamos há mais de um mês. Mudamos a dinâmica deles também, que passaram a tomar banhos semanais; as minhas roupas eram trocadas e higienizadas todos os dias, e me restringi basicamente ao triângulo quarto/banheiro – cozinha – sala.


Como teria que monitorar diversas vezes por dia minha temperatura e pressão, adquirimos um medidor novo e passamos a controlar a cada 3 – 4 horas para efeito de registro de qualquer anormalidade. Já nos primeiros dias notamos algumas alterações da pressão quando tomadas em posições distintas (deitado, sentado e em pé), o que em algumas situações sensivelmente diferentes, o que me causava sensações de tontura – tive inclusive alguns apagamentos instantâneos e quedas sem controle. Aí, passamos a dar mais atenção às mudanças de posição, para evitar quedas contundentes.


Nessas primeiras semanas não sentia o gosto dos alimentos; com isso, perdi mais alguns quilos o que, por um lado, me fez com que me sentisse muito melhor. Mas a perda do apetite foi um grande marco nessa fase da recuperação. Mais do que a perda do cabelo, que já começava a dar sinais de retorno. Fininho, tímido, mas notável a cada dia eu se passava.


A segunda reação da quimio e da radioterapias foi então a queda das unhas: tanto as dos pés quanto as das mãos apresentavam uma quebra bem na metade delas. Foi questão de tempo para que estas caíssem. Hoje já totalmente recuperadas, estão fortes e rijas.


Tive também que me adaptar a tomar banho sentado: colocamos uma dessas cadeiras plásticas no box, pois tudo o que não poderia ocorrer eram quedas e contusões. E a deixar de receber meus filhos e noras aos finais de semana para almoçarmos juntos; talvez tenha sido a maior das “perdas”, pois nos reuníamos praticamente todos os domingos.


Mas o que mais me chamou a atenção nesta fase inicial da recuperação foi o cuidado com o manejo dos alimentos: tudo que entrava em casa era higienizado. As frutas eram (e continuam sendo) lavadas com água e sabão – parece coisa de louco, e as verduras e legumes permanecem imersas em uma solução de hipoclorito (água sanitária diluída em água). E tudo tinha que ser muito bem cozido ou frito; muito ao contrário de meu gosto pelas carnes mal passadas, tive que temporariamente me acostumar a comer os bifes bem fritos! Tive também que abdicar da comida japonesa, o que me é muito difícil, pois sou um apreciador inveterado dessa culinária milenar.


Somente em junho voltei a sentir o paladar: e as coisas voltaram ao normal! Pude saborear com prazer uma moqueca de peixe e uma semana depois, uma refeição japonesa completa! Depois de alguns dias a confirmação de que meu tipo sanguíneo havia mudado: de O+ para A+, de meu irmão. Com isso se concretizava o processo. Não sem intercorrências, que serão objeto de outro post, mas de acordo com o programado.


O mais difícil foi ter que dizer não às visitas: meus pais e irmãos queriam me visitar e eu não os pude receber nas primeiras semanas (e meses) que se seguiram ao transplante. Alguns amigos vieram de qualquer modo, mesmo que só para me ver através da janela da sala. Outros me ligavam ou me enviavam mensagens diariamente: só posso agradecer do fundo de meu coração por todas essas manifestações de carinho.


Sair de casa, somente para os exames de sangue (semanais) e consultas médicas, com cuidados redobrados e acompanhamento constante de minha esposa. Que aliás merece um post específico, dada a importância que ela representou desde o diagnóstico até este momento.


No próximo post: a importância do cuidador/acompanhante.







19 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

POST 25 – 24.03.2021

O que mudou nestes quase 12 meses do transplante? Amanhã comemoro 12 meses desde que fiz o transplante de medula óssea na Beneficência...

תגובות


bottom of page