07.12.2020 - A importância do Cuidador/Acompanhante
Não poderia deixar de fazer um post tratando especificamente da importância do cuidador/acompanhante de um paciente de LMA, que no meu caso foi a minha esposa Viviane.
Como já comentei em post anterior, a minha grande sorte é que a Viviane é enfermeira e, por isso, atenta a quaisquer sinais de que algo não está bem. Foi graças a ela que fui diagnosticado à tempo de iniciar o tratamento e, posteriormente, realizar o transplante de medula óssea. Infelizmente muitos não têm essa sorte e, quando se apercebem da doença, a situação já está mais complicada e difícil de controlar.
Quando não se é da área, o mais importante para o cuidador/acompanhante é entender a gravidade e a complexidade da falta de imunidade, os riscos de infecção e da baixa de plaquetas, de quedas e de sangramentos. É ainda vital que se mantenha o paciente estimulado, ativo e com a devida alimentação, pois muitas vezes este tem problemas com a dieta, buscando assim alternativas aceitáveis. A administração das medicações nos horários corretos é outro ponto de atenção, pois não são poucas e, todas muito parecidas. Observar a temperatura e a pressão arterial pelo menos 3 vezes ao dia é outra tarefa importante; nem sempre o cuidador tem essa habilidade, mas terá que aprender para fazer esse acompanhamento. Da mesma forma, informar-se de possíveis intercorrências e efeitos colaterais dos remédios, pois deverá sinalizar ao médico tudo o que fugir do padrão, para que este faça os eventuais ajustes necessários. Ou seja: trata-se de uma função vital no tratamento e recuperação do paciente com LMA, e que normalmente passa desapercebida e desvalorizada, tanto do paciente quanto dos demais familiares, principalmente quando esse cuidador é a esposa ou o marido ou algum familiar muito próximo.
Quando se é um cuidador profissional, se fez uma opção de vida. Poder participar da história de vida desses pacientes, partilhar suas angústias, inseguranças e poder ajudá-los nessa travessia é muito gratificante. Se vivenciará tanto os momentos positivos, em que tudo está bem, quanto os negativos, em que os pacientes estarão mais sensíveis. Mas exige dedicação, conhecimento, treinamento, muita calma e resiliência.
Vamos agora a alguns cuidados básicos relacionados aos pacientes com LMA (escrito pela Viviane).
Cuidados Básicos do Paciente com LMA
O paciente pós-transplante, faz uso de imunossupressores, por isso tem a imunidade muito baixa. As plaquetas, que são responsáveis pela coagulação, também estão em um nível muito baixo, portanto, é isso que temos que ter em mente para usar a lógica e poder dispensar um cuidado adequado.
Se a imunidade está baixa, temos que pensar em tudo que poderia causar algum tipo de infecção, seja por vírus, bactérias ou fungos.
Vamos então do “macro” para o “micro”:
1. A casa
Deve ser limpa diariamente, removendo poeira e desinfetando tudo (dos móveis ao chão), com uma solução de hipoclorito de sódio*, principalmente o local de manejo de alimentos, o banheiro e o cômodo onde o paciente fica a maior parte do tempo.
Roupas de cama e banho devem ser trocadas pelo menos 1x por semana, lavadas normalmente.
*Solução de hipoclorito de sódio: 1 litro de água e 2 colheres de sopa de água sanitária, coloque em um borrifador e use em todas as superfícies, não mancha. Roupas de cama e banho devem ser trocadas 1x por semana, lavadas normalmente.
2. Alimentos
Frutas, legumes e verduras devem ser muito bem escolhidas, não podem estar batidas e devem ter a casca íntegra e talos rígidos. Tem que ser higienizadas com água e detergente ou em solução de hipoclorito, além disso, devem ser servidas cozidas, evitar alimentos crus, com exceção de algumas frutas com casca grossa (ex. melancia, melão).
Ovos devem ter informações de validade e cascas íntegras.
Carnes de todos os tipos devem estar dentro dos prazos de validade, com embalagens íntegras e devem ser servidas bem passadas.
Sucos devem ser pasteurizados (de caixinha).
Leite e derivados devem ser pasteurizados.
Os alimentos devem ser embalados preferencialmente à vácuo. Todas as embalagens plástico, vidro ou caixas, devem ser higienizadas com água e detergente ou com solução de hipoclorito.
3. O paciente
Além do banho diário, deve estar atento para a higiene oral, e cuidados com a hidratação da pele. Deve-se evitar sair em dias de muito sol; se extremamente necessário, usar antes protetor solar total e roupas que protejam o corpo. Não que seja vedada definitivamente aquela ida à praia, mas deve-se mudar o horário (somente nas primeiras horas da manhã ou no final da tarde) e sempre protegido. Para pacientes que fizeram o transplante, o sol pode atacar os linfócitos (tipo específico de glóbulo branco), que são células do sistema imunológico relacionadas com a defesa do organismo.
Todo o cuidado para evitar ferimentos ou quedas, pois o sangramento pode ser intenso e ainda há o risco de contrair alguma infecção. Palitar os dentes, por exemplo, pode causar sangramento na gengiva e uma infecção.
Deve-se ficar atento para qualquer sinal de infecção, tais como febre, dor, inchaços, vermelhidão, etc. Caso ocorra, entrar em contato com o médico imediatamente! Além disso deve ser estimulado a se movimentar, para evitar o acúmulo de secreções, que poderia levar a problemas respiratórios.
A alimentação deve ser estimulada, mesmo com a falta de apetite, normalmente os alimentos frios são mais bem aceitos (sorvetes, gelatinas e milk-shakes).
4. Medicação
Deve ser seguida à risca, nos horários e doses prescritos. O ideal é fazer uma tabela diária com os nomes, doses e horários, pois são muitas e em horários diferentes.
OBS: Lavar as mãos incansavelmente!
Pensando dessa maneira mais lógica, fica fácil prestar os cuidados necessários, usando uma dose de bom senso, duas doses de paciência e doses extras de bom humor, para não deixar a peteca cair!
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