01.11.2020 - Como tudo começou
Por que foi importante toda essa introdução dos posts anteriores? Primeiro para mostrar que a doença pode atingir qualquer pessoa, bebê, criança, jovem, adulto ou idoso, praticante ou não de atividades físicas, que tenha ou não uma vida estabelecida e planejada, mesmo sem qualquer histórico familiar. Mas acima de tudo foi porque os questionamentos mais sérios que me fiz quando me foi dado o diagnóstico inicial de SMD (Síndrome Mielodisplásica): por que comigo? O que eu fiz de errado para merecer esse “castigo”?
Eu havia passado 7 anos residindo e trabalhando em Porto Alegre (entre 2008 e 2015). Do apartamento que eu morava eu tinha que descer uma rua bem íngreme para ir, e, obviamente, era a mesma para a volta. Durante os primeiros anos isso não me incomodava; mas a partir de 2013/2014, a subida nessa rua passou a ser um pesadelo: ficava quase sem fôlego e frequentemente eu precisava parar no meio da subida.
Nessa ocasião eu era acompanhado pelo cardiologista Dr. Newton Callegari, um amigo e companheiro de natação no Clube Paineiras, dado que num dos exames médicos que fiz para poder participar da equipe máster de natação do clube, foram identificados episódios (não tão frequentes) de extra-sístoles. Assim, achei que o que eu sentia era consequência única e exclusiva das extra-sístoles, não dando maior atenção, já que o tratamento medicamentoso de então me mantinha nos conformes! Ou seja, negligenciei esses episódios de cansaço.
Voltei para São Paulo em meados de 2015; deu ainda tempo para me engajar nos movimentos de rua em busca de democracia, em apoio ao Juiz Sérgio Moro e contra a bandalheira que então grassava na nossa vida pública.
Decidi também a voltar a estudar; depois de 40 anos como engenheiro, queria conhecer mais em detalhes uma área que havia me fascinado quando era recém-formado: na época em que comecei a atuar como engenheiro de Telecom, os nossos maiores clientes eram as estatais de telecomunicações (Telesp, Telerj, Telemig, ...) e seus processos de aquisição baseados na Lei no 8.666. Isso suscitava inúmeras discussões legais, pedidos de impugnação de editais, recursos, contra recursos, e etc. Como eu tinha o conhecimento técnico, era sempre solicitado a me sentar com os advogados para a redação de nossas peças. E sempre me fascinou aquele estilo rebuscado, mas acima de tudo, como eles conseguiam ver outras saídas e possibilidades para um mesmo ponto, coisa que para um engenheiro não era lógico!!! Resolvi então no final de 2018 que iria buscar uma faculdade de Direito e me inscrever. Foi o que fiz no início de 2019: fiz o vestibular da FICS – Faculdades Integradas Campos Salles e desde então estou de volta aos bancos universitários. Achando muito interessante e gostando muito, sigo animando com a coisas que estou vendo e podendo conhecer. Abre bastante os horizontes.
Somente em meados de 2019 foi que começaram a aparecer sinais mais claros de que poderia haver algo errado com minha saúde. Estava apresentando manchas roxas pelo corpo, cada vez mais frequentes, a qualquer batidinha que dava: braços, pernas, qualquer pancada, fosse a mais leve, e já aparecia aquele roxão. E comecei a apresentar sangramentos nasais muito facilmente, coisa que nunca tinha tido antes.
Daí a importância de ter ao lado alguém com conhecimentos da área: minha esposa Viviane, enfermeira, notou esses sinais e me “carregou” ao Pronto Socorro do Plano de Saúde que temos, e que fica aqui perto de onde moramos. Lá chegando, fui atendido pela Dra. Raíssa (incialmente) e depois pela Dra. Fernanda, que solicitaram os exames de sangue de praxe. Recebidos os resultados, a Dra. Fernanda imediatamente me orientou a procurar um especialista em hepatologia e um em hematologia.
Até aí estava num período investigativo; preocupado, obviamente, mas não (ainda) desesperado. Feitas as consultas e os exames, inicialmente com referência à parte hepática, nada se revelou digno de nota: um pouco de gordura no fígado, mas tudo em ordem fora isso. Restava a consulta com o hematologista e fazer os respectivos exames médicos: e foi aí que descobrimos a SMD (agosto/2019) e tudo começou – assunto para os próximos posts.
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