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Foto do escritorLierson José Godinho Brígido

POST 9

12.11.2020 - A importância do diagnóstico precoce

Neste post, vou contar com a ajuda de minha médica, Dra. Vivien Bautzer, Médica Hematologista e Especialista em Transplante de Medula Óssea, que me acompanha desde o primeiro dia e me deu os diagnósticos de SMD e LMA que levaram ao transplante pelo qual passei.

Mas antes vou contar um fato que me passou desapercebido e só depois de uma conversa com a Carla, que também teve leucemia (mas num grau muito mais grave que o meu), me trouxe de volta isso. Eu estava a trabalho em Bonn – então capital da Alemanha Ocidental, no final de abril/início de maio de 1986, e era comum aos finais de semana as pessoas irem às ruas ao longo do Rio Reno para curtirem o dia. Como já estava por lá mesmo, aproveitei o dia maravilhoso que fazia e fui passear. Algum tempo depois vim a saber das manifestações de protesto dos cidadãos alemães, dado que não foram avisados e orientados a ficarem em suas casas devido à nuvem de resíduos nucleares que passou pela região em consequência do acidente com a Usina Nuclear de Chernobyl. Vendo agora as notícias da época e algumas análises das consequências, muito do que ocorreu então se relaciona com o aumento das doenças cancerígenas e de leucemia observadas ao longo dos tempos. Infeliz coincidência; e mais ainda, porque a Carla estava em Munique nessa mesma época!!!

Bom, mas vamos ao que interessa: vou fazer na forma de um bate-bola, em que ela responde às perguntas mais importantes sobre os sinais e a importância do diagnóstico precoce. Não sem antes deixar aqui registrado todo o meu carinho e agradecimento pela sua dedicação a seus pacientes, e a força que vem me dando por todo esse tempo. Vamos lá!


Lierson: De uma forma simples, o que é a Síndrome Mielodisplásica (SMD)?


Dra. Vivien: A síndrome mielodisplásica (SMD) se caracteriza, principalmente, por uma falha na medula óssea em produzir as células do sangue. Podemos comparar a medula óssea (o “tutano” do osso) como uma fábrica que produz carros. É como se a montadora produzisse 10 carros no dia, e passasse a produzir apenas 8. Além desse déficit de quantidade, os carros “saem” da fábrica com defeitos de qualidade (sem retrovisor, sem porta) e precisam ser recolhidos.

No caso das células sanguíneas, as defeituosas duram menos tempo no sangue. Sendo assim, o paciente pode apresentar redução do número de glóbulos vermelhos (anemia), dos glóbulos brancos (leucócitos) e/ou das plaquetas.


Lierson: Quanto aos primeiros sintomas, quais os que se deve prestar muita atenção?


Dra. Vivien: O paciente pode não apresentar sintoma algum e descobrir por acaso em um exame simples de hemograma realizado de rotina. Em outros casos, porém, pode apresentar episódios de cansaço e fraqueza (pela anemia); febre e infecções (pela redução dos glóbulos brancos); ou sangramentos (pela redução das plaquetas).

A ciência ainda não sabe ao certo quais são as causas da SMD. Algumas mutações genéticas estão envolvidas, mas o mecanismo exato ainda não é inteiramente conhecido. Sabe-se apenas que pacientes que receberam quimioterapia, radioterapia ou foram expostos a benzeno têm maior risco de desenvolver a SMD.


Lierson: Existem exames preventivos para se detectar a SMD?


Dra. Vivien: Não existem exames para prevenção dessa doença. A partir do momento que o hemograma está alterado, o paciente deve ser encaminhado para investigação com um Hematologista, que avaliará a necessidade de exames na própria medula óssea (o mielograma, a imunofenotipagem e o cariótipo). Se confirmado o diagnóstico de SMD, é realizado o cálculo de um score chamado R-IPSS. Esta classificação determina a chance de a doença progredir para Leucemia Mielóide Aguda (LMA) – que foi o seu caso, e indica o tipo de tratamento para cada caso. A terapia é bastante variável, com alguns pacientes necessitando apenas de seguimento ou medicações de suporte, enquanto outros podem precisar de quimioterapia / hipometilante, seguido de transplante alogênico de medula óssea, que envolve a identificação de um doador compatível.


Lierson: Quer dizer que a evolução da SMD para a LMA é somente uma questão de analisar o score R-IPSS? E no meu caso, que essa evolução se deu em tão pouco tempo (menos de 2 meses), é normal ser tão rápido?


Dra. Vivien: Hoje, em 2020, na prática clínica sim, é somente através do score R-IPSS que podemos ter uma noção do tempo de progressão para LMA. Além do score, existem estudos genéticos que podem auxiliar nessa avaliação, mas que, no entanto, não estão disponíveis amplamente. Gosto sempre de frisar aos meus pacientes que cada doença se comporta à sua maneira, tanto em evolução quanto em resposta aos tratamentos. Não se prenda à números e estatísticas pois medicina não é uma ciência exata. Cada tumor tem a sua biologia e, futuramente, cada paciente terá seu tumor estudado (geneticamente) de forma individual possibilitando terapias mais dirigidas.


Lierson: Muito obrigado pelos esclarecimentos e informações Dra. Vivien, que espero sirvam para alertar as pessoas sobre os riscos da doença e a necessidade de buscarem ajuda médica tão logo aparecerem alguns desses sinais.

O R-IPSS foi desenvolvido pelo “International Working Group for the Prognosis of MDS (IWG-PM)”, e se presta a identificar os graus de severidade da SMD. Nada mais é do que uma ferramenta de cálculo, em que se entram com valores resultantes de exames médicos de sangue e de medula óssea, além da idade do paciente.

Resumindo: exames de rotina são importantíssimos e a observação dos sinais mais ainda; não deixe para depois! O tempo é tudo que importa nesta doença: é silenciosa e, se não tratada adequadamente, mortal!

No próximo post: A internação e a preparação para o transplante – no meio da pandemia do COVID-19






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